terça-feira, 25 de junho de 2013

Helvécio filia-se ao PT e pode ser o candidato do partido à Prefeitura de São João del-Rei



              A recente filiação de Helvécio Luiz Reis, reitor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Setembro ao Partido dos Trabalhadores (PT) abre especulações sobre a sua possível candidatura à Prefeitura de São João del-Rei. Apesar disso, Helvécio ainda está reticente e afirma que a sua prioridade é a gestão à frente da UFSJ.

              “Filiei-me, sim, ao PT. Esta filiação não tem absolutamente nada com a gestão da UFSJ. É o cidadão Helvécio Reis quem filiou”. Apesar das escassas declarações do motivo de sua filiação, a sua entrada no PT, aliada a sua liderança na UFSJ, o colocam como possível nome para a disputa eleitoral em 2012. Em entrevista concedida pouco antes de sua filiação, Helvécio preferiu não criticar a atual gestão em São João del-Rei, destacou sua gestão a frente da universidade e falou das especulações eleitorais envolvendo seu nome.

Um dos pontos comentados por Helvécio foi a possibilidade de gestores educacionais entrarem na política. Com base no ministro da educação Fernando Haddad, que disputa no PT a indicação para ser candidato a prefeitura de São Paulo, Helvécio foi claro em manifestar sua opinião sobre o tema. “As pessoas têm que desmistificar isso, a gente fica expurgando essas pessoas, fica com pudor: quem é gestor público não pode ser candidato, porque fica parecendo que está usando um cargo pra a promoção pessoal. Diferente do perfil que a gente vê por aí, eu não vejo isso como um problema”, afirma ele que garante ter tido uma excelente relação com o Ministro, e esmiúça: “Mas se ele se mostrou bom como gestor público, a gente tem que investir nisso”.

            O ingresso do reitor na política partidária em São João del-Rei aponta para novos embates, já que a universidade passa a participar mais ativamente dos rumos da cidade. Helvécio mostra-se atento aos problemas da cidade e de sua relação com a UFSJ. “A cidade enfrenta os mesmos problemas de qualquer cidade: moradia, saneamento e transporte; problemas que afligem de um modo geral todos os municípios. E cidade que tem universidade acaba por se confundir com a própria universidade e fica mais complicado ainda”, declara Helvécio diante dos impasses existentes, provocados especialmente pelo aumento populacional da cidade histórica.

            Na avaliação do reitor, o crescimento da UFSJ implica em mudanças na gestão da própria cidade. “Como a cidade está crescendo muito, passando por um processo de aquecimento forte, isso vai exigir dela um processo de adequação”, salienta o reitor. Helvécio destaca os novos desafios decorrentes da expansão da universidade, mas afirma que não cabe a UFSJ apontar que prioridades o município deve assumir. “Você não tem como chegar numa cidade e dizer: nós vamos criar dez cursos novos, teremos mais dois mil alunos em São João del-Rei nos próximos anos e, vocês devem investir em moradia e em saneamento básico”, afirma.

Ao tratar mais diretamente da gestão da prefeitura de São João del-Rei, Helvécio mostra cautela ao falar da relação da UFSJ com o órgão: “Em alguns momentos, tanto na prefeitura atual, e ainda mais na anterior, houve alguns encontros em que nós colocamos a prefeitura ciente de que a universidade estava crescendo”, garante.

No entanto, o atual gestor da UFSJ não deixa de ressaltar as disparidades entre a universidade e os demais órgãos da administração pública. “Há sempre uma demanda daqui pra lá e de lá pra cá, mas como as coisas são viabilizadas aí é que está a questão. Cada uma estabelece suas próprias prioridades e pode ser que essas prioridades não casem”, mas assume que essa parceria foi o pressuposto para os progressos do município: “A prefeitura é uma parceira também. A ciclovia foi construída com participação dela”.

Ao citar a atual gestão, Helvécio adota cautela e prefere apontar os respaldos da própria comunidade com relação à universidade: “No nosso caso, o da universidade, eu acredito que a própria população tem reagido, vendo que universidade está crescendo muito e tem investido no setor imobiliário.” Ao ser novamente questionado sobre visão acerca da administração do atual prefeito Nivaldo de Andrade (PMDB), Helvécio adotou a cautela com base em sua possível candidatura: “Posso ser mal interpretado, o que eu falar sobre essa relação pode ser um problema, pois meu nome está surgindo como um nome possível à concorrência da prefeitura, então eu prefiro não falar para não dizerem que eu já estava falando mal da prefeitura”.

Sabendo de sua capacidade de liderança, legitimada pela sua reeleição ao cargo de reitor com 78% dos votos dos três segmentos da universidade em 2008, o gestor reconhece sua popularidade: “Sinto-me bastante envaidecido, sair na rua e ouvir: Oh prefeito! Acho que é um reconhecimento incalculável, uma honra enorme, dá um ânimo especial”, mas não deixa de reforçar a diplomacia: “Eu não devo isso só ao meu trabalho; eu devo também a minha comunidade universitária, pois ela trabalhou muito para ajudar a reitoria nessas conquistas de oito anos”.

Gestão na UFSJ é marcada por constante presença de petistas

Desde 2004 à frente da UFSJ, Helvécio destaca o que ele chama de patrimônio do diálogo estabelecido em sua gestão. “Eu procurei conversar com todos os grupos da universidade para que eles pudessem restabelecer o diálogo e que as mágoas que pudessem ter surgido no processo eleitoral ficassem no processo eleitoral”. Helvécio considera tal feito como fator primordial para a realização de seu mandato marcado por presenças constantes de petistas.

Em sua gestão, destacam-se a criação de três novos campus fora da cidade-sede. São eles: o Campus Alto Paraopeba, o Campus Centro-Oeste “Dona Lindu” em Divinópolis e o Campus Sete Lagoas. Foram criados ainda dez novos cursos em São João del-Rei através do REUNI, programa do Governo Federal para expansão das universidades públicas. Além disso, foram implantados mestrados em diferentes cursos da UFSJ.

As inaugurações e eventos da universidade sempre tiveram a presença de muitas lideranças políticas, o que já mostrava o possível futuro de Helvécio. Nomes petistas de peso não faltaram nesses últimos anos. O deputado federal Reginaldo Lopes, ex-aluno da UFSJ, sempre esteve presente em diversos momentos ao lado do reitor mostrando apoio e a aliança de ambos. A aliança com Reginaldo Lopes foi constante, inclusive, em audiências públicas no Ministério da Educação.

Em 2010, Helvécio recebeu, entre outras lideranças, o ex-presidente Lula no Campus “Dona Lindu” em Divinópolis, a presidenta Dilma Rousseff, que a época ainda era pré-candidata do PT e líderes petistas em Minas como Fernando Pimentel e Patrus Ananias. Apesar de só ter se filiado recentemente ao PT os rumos políticos do reitor já se desenhavam no último ano diante de suas aproximações políticas.

“Se eu tiver que pleitear, se eu tiver que continuar uma carreira política, porque reitoria também é uma carreira política, não é só ser gestor, eu teria que estar ligado a algum partido. Neste momento, eu não estou filiado a nenhum partido político. Meu partido agora é UFSJ”, declara Helvécio Luiz Reis poucos dias antes de sua filiação ao PT. A decisão é, por enquanto, uma decisão pessoal segundo ele.



Apesar da cautela mostrada pelo reitor, sua entrada no jogo eleitoral de 2012 parece inevitável. Apadrinhado político de Reginaldo Lopes que tem em São João del-Rei uma base eleitoral, Helvécio pode ser o nome do PT para enfrentar o prefeito Nivaldo e tentar mudar os rumos da sempre surpreendente política sãojoanense.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ao lado de Santo Antônio, um amparense cheio de histórias...

Na sala aconchegante, com quadros, brasões de famílias, jornais históricos de tempos antigos e fotos de familiares, um homem conta um pouco da sua história. Seus 86 anos são só um detalhe, pois ele está maduro e renovado em seu tempo. Seu conhecimento vasto do passado só é possível porque ele conhece também o presente. Convive bem com o gravador que ali estava, com o computador, com os tantos aparelhos eletrônicos de nossa época. Mas se debruça sobre a história com sede, pesquisando minuciosamente fatos importantes em seus arquivos muito bem cuidados de jornais que registram um pouco do povo de Santo Antônio do Amparo. Este é o Sr. Pedro Alves Avelar que de sua janela avista o Santuário de Santo Antônio de Pádua, o cartão postal de sua cidade, que ele conhece como poucos.


Sr. Pedro preserva o passado de olho no futuro
Assentados em torno de uma mesa tivemos uma conversa agradável naquele Sábado de Aleluia com um sol que entrava suave pela janela. Debruçado sobre jornais antigos ele mostrava grandes fatos históricos que, talvez, só ele possua registros. Ansioso e disposto pede o início de nossa entrevista que, de certa forma, já havia começado em nossas conversas sempre longas nos dias anteriores em que marcamos nosso encontro. No bairro Areão, onde viveu sua curta infância de 12 anos, Pedro Alves experimentou uma de suas grandes paixões de vida: a religião. “Tinha um cruzeiro onde hoje é a Igreja Imaculada Conceição. Era ali onde a gente brincava, freqüentava o catecismo. Ali rezávamos, juntavam-se as crianças por ali”. Aos 12 anos sua história de vida mudaria, pois ele começaria a trabalhar.

“Depois dos 12 anos quando estava terminando o curso primário empreguei na farmácia do Sr. Edmundo Coutinho. Trabalhei lá três anos”. Sempre calmo, procurando tirar a poeira que se acumulava sobre a tela do gravador Pedro Alves mostra que, embora trabalhasse desde cedo, sua outra grande paixão não seria deixada de lado. Trata-se da educação e do conhecimento, que é uma de suas aliadas na caminhada de vida. Constância Carvalho, a D. Tancinha, foi a primeira professora. Talvez ela não soubesse que o “Pedro Malasartes”, apelido dado pela mãe, se tornaria o homem cheio de ricas experiências com a educação pela sua vida. A D. Titina, Constantina Cardoso, a segunda professora, nutriu grande admiração por seu aluno ao qual contribui muito por sua formação. “Ela mandou que eu fosse para sua casa para reforçar os estudos e conseguir sair para estudar”.

Isso seria o impulso para sua caminhada de estudos, quando foi para Belo Horizonte estudar numa escola militar. Com 15 anos sua grande paixão se aflorou: o patriotismo. Começaram seus estudos e suas experiências militares que ele conta com saudosismo apaixonado. “Com três meses fomos fazer um desfile de 7 de Setembro no Rio de Janeiro. O Brasil estava começando a entrar na guerra e lá me distingui bem. Era porta-bandeira, fui elogiado, e tenho documentos guardados que recebi dos comandantes. Estavam lá o presidente da República e o Ministro da Guerra. Voltei no segundo ano, o Brasil já estava em guerra e eu já era militar com 17 anos. Estava entusiasmado com a carreira”. Mas Pedro viu que não tinha vocação mais tarde, assim como não tivera para ser padre, embora sua mãe quisera quando ele era criança.

Pedro Alves fala serenamente com preocupação em detalhes e nomes. Em nenhum momento olha para o relógio e também não deixa de citar as pessoas que o ajudaram e com quem realizou projetos juntos. Sua vida cheia de paixões foi marcada pelo grande amor de sua vida que surgiu quando ele voltou para Santo Antônio do Amparo definitivamente. “Eu vim embora, mas com a intenção de voltar para Belo Horizonte. Chegando aqui comecei a namorar com a Eloíza. O namoro naquela época era só em tempo de festa”. Eloíza mudaria para sempre a vida de Pedro. Se antes sua intenção era voltar, foi por ela que ele definitivamente se enraizou no solo amparense. Eloíza Borges Alves é sua esposa há 62 anos e com ele constituiu a grandiosa família de 10 filhos, 19 netos e 4 bisnetos.

Na casa que construiu ao lado do Santuário, Pedro se tornou amigo do Monsenhor José Alves Vilaça, de quem era vizinho. Próximo a ele participou intensamente da religião. “Eu participava do conselho, Irmandade do Santíssimo, Conferência Vicentina e fazia parte do movimento religioso”. Enraizado em sua terra foi também candidato a prefeito, mas não conseguiu ser eleito, embora diga com orgulho: “sem ser prefeito, eu fiz mais que o prefeito daquela época”.

Uma de suas lutas foi trazer escolas para a cidade em lutas conjuntas com Monsenhor. A atual Escola Estadual “Newton Ferreira de Paiva”, que possui esse nome por sugestão do próprio Pedro em homenagem a seu amigo, foi uma luta de longos anos. Primeiro conseguiram trazer a escola e depois lutaram para que ela se tornasse estadual. Sempre buscando recursos que mantivessem a escola muita dedicação sempre foi vista. “Na minha casa eu abriguei muitos professores, pois não tínhamos professores habilitados no início. Depois nossos professores começaram a fazer seus estudos em Três Corações para conseguir o diploma do Ministério da Educação. Até mesmo o Monsenhor, que tinha muita instrução, fez o estudo para se tornar professor licenciado”.

“Para se ajudar não precisa ter cargo”. É com essa certeza que Pedro, sem jamais ter ocupado um cargo político, mostra o que é, para ele, a verdadeira política. “O principal é a educação do povo que está muito errada. Eu disputei política e perdi, mas pude fazer muita coisa pela cidade sem estar na chefia. Quem era amigo continuava e não ficava inimigo como está a política de hoje. Como católico e cristão que sou penso que não podemos nos desfazer do outro. Isso é anti-ético e anti-cristão. Não se pode denegrir o outro. Isso precisa acabar. Isso é o que mais me faz ficar afastado de ser membro político”.. Mais a vontade do que nunca, Pedro segura o gravador em suas mãos, agora sem se preocupar nem um pouco com ele e fazendo questão de que suas palavras sejam registradas. “Procure fazer uma coisa pela sua cidade, seu município, sem ser partidário. A política é uma arma de fazer inimigos e não de fazer amigos”.

No belíssimo Santuário de Santo Antônio de Pádua, que Pedro viu ser erguido no lugar da capela que o antecedeu, suas lutas não foram menores. Ele conta que o relógio no alto da torre foi uma ideia sua, com um orgulho cristão de quem sabe o valor desse bem. Os vitrais coloridos foram outra luta participada por ele que pedia as doações para quem tinha dinheiro na época. “Eu não tinha condições de doar, mas fiz muita gente doar”. O Santuário, recentemente reformado, recebe elogios de quem o viu de perto ser construído nesses mais de 70 anos que ele existe. “Somente depois dessa última reforma é que pode se dizer que ele está terminado”. Antes de o Santuário ser erguido Pedro fora batizado, crismado e fizera a primeira comunhão na antiga capela de Santo Antônio. Entre religião e política a conversa se encaminhava para um fim.

“Hoje eu já estou com 86 anos, na casa dos 90, que pouca gente chega lá. Graças a Deus com saúde e memória boa, mas consciente de que estou no final. Estou descendo os degraus. Como cristão, como católico, acredito na ressurreição. Sei que o ser não morre, falece. A matéria vai, mas a gente continua vivo em outra dimensão. Esse é um mistério, não quero me aprofundar nisso. Não tenho condição, nem tempo, nem idade. Pode o Papa, os bispos e os padres errarem. Eu tenho minha fé, minha convicção e vou até o fim”. A hora do almoço estava chegando e alguns filhos já o haviam chamado para almoçar. Pedro tinha fome de falar, afinal é muita coisa que ele sabe e precisa expor. Aproveitei e agendei nova entrevista. Precisamos conversar sobre a história do município que ele abriga com vários documentos e datas que a gente sem perceber acabou falando durante alguns minutos ainda. Mas para aquele dia já estava bom. Guardei o gravador e recusei o convite para o almoço, precisava ir.

Pedro Alves e Eloísa: mais de 60 anos de união (Arquivo Pessoal)
O sereno e convicto Pedro Alves senta-se a mesa com alguns membros de sua família deixando a sala e levando consigo um livreto com dados sobre a história de Santo Antônio do Amparo com uma afeição notável. A princípio é só um homem idoso vivendo sua velhice. Mas ao conversar com ele é perceptível que a juventude corre em suas veias octogenárias. Ela é nutrida por um espírito de fé e paixões que são os ingredientes fundamentais para renovar o espírito. Pedro é um amante da vida e a aproveita de maneira intensa, continua com ideais firmes, dos quais se destaca o resgate da história de sua cidade. A última imagem que vi antes de terminar essa matéria foi dele assentado ao lado de sua esposa Eloíza. E é, sem dúvidas, ela, que há 62 anos convive diariamente com ele, que sabe mais do que ninguém o segredo de uma vida e um casamento tão bem vividos. Adriano, José, Isabel, Maria Nívea, Antônio Otaviano, Lino, Sofia, Luís, Salviano e Emiliana. Os dez filhos encerram esse perfil, pois eles, bem aventurados, sabem mais do que ninguém do valor de seus pais, Pedro e Heloísa, há 62 anos construindo uma vida cheia de emoções.

Vinícius Borges Gomes